Marinha do Brasil
A
Batalha Naval do Riachuelo é considerada decisiva na Guerra da Tríplice
Aliança (Brasil, Uruguai e Argentina) contra o Paraguai. O conflito
militar, que ocorreu entre 1864 e 1870, foi o maior da América do Sul.
A
guerra começou após a invasão da província brasileira de Mato Grosso,
por tropas paraguaias, sob ordem do presidente Francisco Solano Lopez. O
governante, que chegou ao poder após a morte do seu pai, Carlos Antônio
Lopez, impôs uma política externa mais agressiva e passou a intervir em
conflitos na região.
O
ataque do Paraguai foi uma retaliação à interferência brasileira na
guerra civil do Uruguai, em 1864, quando o presidente Atanasio Aguirre
foi deposto e o seu rival, Venancio Flores, empossado. Tal intervenção
contrariou os planos políticos e as alianças de Solano Lopez. O
presidente considerou a invasão do Uruguai um ato de guerra do Brasil
contra os interesses do seu país e iniciou as hostilidades.
Logo
em seguida, a Argentina se envolveu na guerra, após vetar o pedido do
Paraguai para atravessar seu território com tropas em direção ao Rio
Grande do Sul. Com a negativa, Lopez invadiu a província argentina de
Corrientes.
O Paraguai estava se mobilizando para uma possível
guerra desde o início de 1864. Lopez se julgava mais forte e acreditava
que teria o apoio do Partido Blanco uruguaio e dos partidários
argentinos de Justo José de Urquiza, que exercia o poder na província
argentina de Entre Rios. Tal aliança, no entanto, não ocorreu. A derrota
em Riachuelo, em 11 de Junho de 1865, acabou com a possibilidade de uma
vitória rápida.
Esquadra brasileira
No início da Guerra
da Tríplice Aliança, a Esquadra brasileira dispunha de 45 navios
armados. Desses, 33 eram de propulsão mista - à vela e a vapor - e 12
dependiam exclusivamente do vento. O Arsenal de Marinha do Rio de
Janeiro (Arsenal da Corte) passara por uma modernização, em meados do
século XIX. Assim, diversos navios do início da guerra foram projetados e
construídos no Brasil.
As embarcações eram, portanto, adequadas
para operar no mar, e não nas condições de navegabilidade restrita e
águas pouco profundas, como as dos rios Paraná e Paraguai. A
possibilidade de encalhar era um perigo constante. Além disso, os navios
possuíam casco de madeira, muito vulneráveis à artilharia de terra que
ficavam posicionadas nas margens.
Esquadra paraguaia
A
esquadra paraguaia possuía 32 navios, incluindo embarcações retidas do
Brasil e Argentina no início da guerra. Desse total, 24 eram navios de
propulsão mista – a maioria de madeira, movida por rodas de pás. Embora
todos fossem adequados para navegar nos rios, somente uma embarcação, o
Taquari, era um verdadeiro navio de guerra.
Diante da necessidade
de usar equipamentos mais modernos, os paraguaios desenvolveram a chata
com canhão como arma de guerra. Tinha um fundo achatado, sem propulsão,
com um canhão de seis polegadas de calibre. Era rebocada até o local
onde seria posicionada. A embarcação transportava apenas a guarnição do
canhão. Sua borda ficava próxima à superfície da água, deixando à vista
um reduzidíssimo alvo, em que se via somente a boca do canhão.
Antecedentes da Batalha
Coube
ao Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Visconde de Tamandaré, depois
Marquês de Tamandaré, o comando das Forças Navais do Brasil em Operações
de Guerra contra o Paraguai. A Marinha do Brasil representava
praticamente a totalidade do Poder Naval nas operações de guerra. O
Comando-Geral dos Exércitos Aliados era exercido pelo Presidente da
República da Argentina, General Bartolomeu Mitre.
Os rios Paraná e
Paraguai eram as artérias de comunicação que garantiam o transporte de
suprimentos de guerra ao Paraguai. Dessa forma, a estratégia adotada
pelos aliados foi o bloqueio naval. As forças brasileiras foram
organizadas em três divisões. Uma permaneceu no Rio da Prata e as outras
duas subiram o Rio Paraná para efetivar o bloqueio.
Com o avanço
das tropas paraguaias ao longo da margem esquerda do Paraná, Tamandaré
resolveu designar seu Chefe do Estado-Maior, o Chefe-de-Divisão (posto
que correspondia a Comodoro, em outras Marinhas) Francisco Manoel
Barroso da Silva, para comandar a Força Naval.
Barroso partiu de Montevidéu, em 28 de abril de 1865, a bordo da Fragata Amazonas, e se juntou à força naval em Bela Vista.
A
primeira missão de Barroso foi um ataque à cidade argentina de
Corrientes, ocupada pelos paraguaios. A operação de desembarque
transcorreu sem problemas no dia 25 de maio. Contudo, não foi possível
manter o controle da cidade e, logo depois, ela foi evacuada. Ficou
evidente que a presença da Força Naval brasileira deixaria o flanco dos
invasores sempre muito vulnerável. Era necessário destruí-la, e isso
motivou Solano López a planejar a ação que levaria à Batalha Naval do
Riachuelo.
Batalha
A Força Naval Brasileira, comandada por
Barroso, estava fundeada no Rio Paraná, próxima à Cidade de Corrientes,
na madrugada do dia 11 de junho de 1865.
O plano do Paraguai era
surpreender os navios brasileiros na alvorada do dia 11, abordá-los e,
após a vitória, rebocá-los para a cidade paraguaia de Humaitá (onde
estava localizada uma fortaleza de mesmo nome).
Para aumentar o
poder de fogo, a Força Naval paraguaia, comandada pelo
Capitão-de-Fragata Pedro Ignácio Mezza, rebocava seis chatas com
canhões. A Ponta de Santa Catalina, próxima à foz do Riachuelo, foi
ocupada pelos paraguaios. Havia também tropas de Infantaria posicionadas
para atirar nos navios brasileiros que escapassem.
No dia 11 de
junho, aproximadamente às 9hs, a Força Naval brasileira avistou os
navios paraguaios descendo o rio e se preparou para o combate. Às 9h25
foram disparados os primeiros tiros de artilharia. A Força Naval
paraguaia passou pela brasileira, ainda imobilizada, e foi se abrigar
junto à foz do Riachuelo.
A Força Naval brasileira desceu o rio,
perseguindo os paraguaios. Sem saber que a margem estava artilhada, o
comandante Francisco Manoel Barroso da Silva deteve seu capitânia (nau
que leva o comandante), a Fragata Amazonas, para impedir uma possível
fuga dos paraguaios.
Com a manobra inesperada, algumas das
embarcações brasileiras retrocederam e a Fragata Jequitinhonha encalhou
em frente às baterias de Santa Catalina. O primeiro navio da linha, o
Belmonte, passou por Riachuelo separado dos outros, sendo alvo do fogo
concentrado do inimigo. Depois, encalhou propositadamente, para não
afundar.
Corrigindo sua manobra, Barroso assumiu o comando dos
outros navios brasileiros e fez a passagem, combatendo a artilharia da
margem sob a fuzilaria das tropas paraguaias. Completou-se assim,
aproximadamente às 12h, a primeira fase da batalha. Até então, o
resultado era insatisfatório para o Brasil.
O Belmonte estava
fora de ação, a Jequitinhonha encalhada e, o Parnaíba, com avaria no
leme, havia sido dominado pelo inimigo, apesar da resistência heróica
dos brasileiros como o Guarda-Marinha Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio
Dias, que lutaram até a morte. Diante do cenário, Barroso decidiu
regressar. Desceu o rio, fez a volta com os seis navios restantes e,
logo depois, estava novamente em Riachuelo.
Tirando vantagem do
porte da Amazonas, Barroso usou seu navio para abalroar e inutilizar as
embarcações paraguaias e vencer a batalha. Quatro navios inimigos
fugiram perseguidos pelos brasileiros.
No fim da tarde de 11 de
junho, a vitória era brasileira. A esquadra paraguaia havia sido
praticamente aniquilada e não teria mais participação relevante no
conflito. Estava, também, garantido o bloqueio que impediria que o
Paraguai recebesse armamentos do exterior. Foi a primeira grande vitória
da Tríplice Aliança na guerra e, por isso, muito comemorada.
Com
a vitória em Riachuelo, a retirada dos paraguaios da margem esquerda do
Paraná e a rendição dos invasores em Uruguaiana, os aliados acreditaram
que guerra terminaria logo. Isso, porém, não ocorreu.
O Paraguai
era um país mobilizado e Humaitá ainda era uma fortaleza invencível
para os navios de madeira que venceram a Batalha Naval do Riachuelo. A
guerra foi longa, difícil e causou muitas mortes e sacrifícios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário